domingo, 12 de janeiro de 2014

5/12/2013 - 20h00 Terra de Chico Xavier terá museu, hotel temático e cartão de crédito do médium

COPIEI DA FOLHA , D SERAFINA. ACHO QUE É IMPORTANTE SABER QUE ISSO ESTÁ ACONTECENDO...
ADRIANA KÜCHLER
DE UBERABA (MG)
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Quinta, 14 de novembro, véspera de feriadão. Todo mundo está empacotando o biquíni e a sunga para enfrentar um dos maiores engarrafamentos da história rumo ao litoral. Enquanto isso, a equipe da Serafina empilha roupas comportadas para enfrentar sua primeira experiência no turismo religioso.
O destino é Uberaba –onde Chico Xavier, o médium mais famoso do Brasil, fez sua reputação. Diziam por aí que a "capital do zebu" queria criar um grande polo nacional de turismo religioso e estaria prestes a virar uma espécie de Aparecida dos espíritas.
O ponto de partida da excursão é o Instituto Françoso de Membro Superior e Terapia de Mão -de nome curioso, nada mais era do que uma clínica de fisioterapia. E foi de lá, no bairro do Campo Belo, em São Paulo, que saímos com a Caravana Caminheiros do Evangelho com destino à meca do espiritismo.
Antes de rodar os 485 km no ônibus até Minas Gerais, algumas orientações do casal Ailton e Samantha Ceródio, organizadores do grupo: "Lá em Uberaba é todo mundo britânico", diz Samantha. "Tudo começa na hora, então tem que acordar cedo."
"Nada de bebida alcoólica. Essa é uma viagem religiosa", sentencia Ailton. A TV do ônibus exibe o blockbuster espírita "Chico Xavier", com Nelson Xavier e Tony Ramos, enquanto os caravaneiros vão apagando em suas poltronas.
Oito horas depois, com o sol nascendo e as costas doendo, chegamos ao Manhattan Flat Service, em Uberaba. Em vez do esperado descanso na cama plana, ganhamos uma hora para trocar de roupa e partir para o primeiro ponto do roteiro, a casa de Chico Xavier. Minha primeira lição da viagem foi a mesma que o espírito Emmanuel deu ao médium: disciplina, disciplina, disciplina. Os espíritas são muito regrados.
Francisco de Paula Cândido Xavier nasceu em Pedro Leopoldo (MG), em 1910, e por lá começou a desenvolver seus dons, supostamente conversando com espíritos e escrevendo cartas e livros ditados por eles. Mas foi em Uberaba, para onde se mudou em 1959, que ele se tornou o grande ícone da doutrina.
Segundo seus discípulos, Chico prometeu que só morreria quando todos os brasileiros estivessem felizes. Isso aconteceu em 30 de junho de 2002, dia em que o Brasil virou penta.

Turista Espiritual

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Editoria de Arte/Folhapress
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Uberaba, em Minas Gerais, recebe um grande contingente de turistas espirituais anualmente
VIDA SEXUAL E COISA RUIM
A casa em que Chico vivia virou uma espécie de museu improvisado, mantido por seu filho adotivo, Eurípedes Higino. Logo na entrada, vendem-se bustos do médium a R$ 50 e gorrinhos parecidos com os que ele usava a R$ 20.
E livros, muitos livros, porque, lição número dois, se tem uma coisa que os espíritas gostam de fazer mais do que acordar cedo, é ler.
Os muitos livros da biblioteca do próprio Chico estão expostos no museu.
Numa mesma prateleira, se acotovelam "As Cartas do Coisa Ruim", de C.S. Lewis, "Yoga - Paz com a Vida", de Hermógenes, e "A Nossa Vida Sexual", do dr. Fritz Kahn.
Abrindo espaço entre a horda de turistas espirituais, é possível ver, numa parede, 37 boinas e gorros que ele usava para disfarçar os cabelos ralos.
Vaidoso, colecionava também produtos de beleza: creme Nivea, talco Pompom e sete frascos de água de colônia se espremem num cantinho. O fixador de dentaduras Ultra Corega em pó, talvez por mais importante, acabou na cristaleira ao lado de prêmios e medalhas.
Fotos são muitas também: com Roberto Carlos e Vera Fischer, além de uma montagem com Hebe Camargo. Mas o destaque mais curioso é a vitrine chamada "Obras literárias que falam mal de Chico Xavier". A descrição diz que o médium achava muita graça dos ataques.
O roteiro da viagem prevê uma experiência de cura espiritual na Casa da Sopa Adolfo Fritz. O local é um dos chamados "trabalhos" que cresceram em Uberaba em torno do fenômeno Chico Xavier -atrações realmente ligadas ao médium são bem poucas. Os trabalhos são obras de assistência social que, em troca de alguma doação, oferecem aos turistas variadas formas de cura ou comunicação com o além.
Nesse "trabalho" quem manda é Venerando Vitoria Junior, 54, vulgo Juninho. A sala de cura tem 16 macas, luz azul e toca uma versão de "Memory" (mas sem o vocal de Barbra Streisand). Como dizem que não é preciso ter nada doendo, aceito participar. Mas não relaxo, com medo de roncar como um dos companheiros de uma maca próxima.
Juninho passa de um por um e toca na região do suposto problema físico. Em quase todas, pressiona a região dos órgãos digestivos –o mesmo acontece comigo. O médium diz que nada ouve na hora da cura, nem os roncos. "Não vejo nada. Os espíritos me orientam. Só sei que as pessoas dizem que se curam."
No fim, pedem que os pacientes tomem um "remédio", que parece um copinho d'água. O medicamento, Samantha explica, é água –mas energizada pelos espíritos. "Eles põem o remédio certo para cada um."
EVOLUÇÃO PLANETÁRIA
Samantha e Ailton (e outros caravaneiros excepcionalmente pacientes) viram uma espécie de instrutores do meu intensivão em espiritismo. Uma das teorias que me desperta mais curiosidade é a da vida em outros planetas.
Samantha me ensina que espíritos mais evoluídos são chamados para viver em planetas também mais evoluídos. Segundo a teoria, quanto mais perto do Sol, mais avançado o mundo -o que nos colocaria num bom terceiro lugar na escala de evolução planetária.
Ela chama a atenção para o fato de que nessa área é preciso usar o crivo da razão porque "às vezes, você lê umas maluquices". E como saber que a escala espiritual cósmica não é também uma sandice? "Porque está em 'O Livro dos Espíritos'", esclarece Samantha, sobre o clássico de 1857, escrito pelo pai da doutrina, Allan Kardec.
PACOTE COMPLETO
Se a casa-museu do médium tem o charme do improviso, a grande promessa de atração do roteiro espírita é o Memorial Chico Xavier. Em construção e com inauguração desejada para fevereiro, tem investimento de R$ 6,8 milhões -sendo 10% da prefeitura de Uberaba, e o restante do Ministério do Turismo.
"Já somos a Meca do espiritismo. Mas o movimento turístico, principalmente após a morte de Chico, fez com que várias entidades, como Lions, Rotary e Maçonaria, quisessem preservar sua memória", diz Adalberto Pagliaro Junior, especialista em tecnologia de serviços funerários e presidente do Instituto Chico Xavier, que administra o memorial.
Para compor o acervo do novo museu, o instituto convoca o público a doar fotos, cartas e mensagens. O memorial terá um hotel próprio, o Nosso Lar, com 142 quartos, "para dar mais conforto ao turista espiritual".
O presidente do instituto vê um enorme potencial no crescimento turístico de Uberaba, mas não sonha com a tal Aparecida espírita. "Essa população é muito menor do que a católica [2% dos brasileiros se declaram espíritas, contra 64,6% de católicos, segundo dados do Censo 2010]. Para seguir a doutrina, você precisa de muita leitura, interpretação. Só isso já reduz o número de adeptos."
Chico Xavier, além de médium, era um visionário, diz Adalberto. Ele acredita que Chico, com suas doações a famílias carentes, foi um precursor do Bolsa Família. E ainda teria estimulado a melhoria genética do boi zebu.
Para preservar também o legado de doação do ícone do espiritismo, Adalberto pretende lançar o cartão de crédito do médium -parte da mensalidade seria revertida para instituições de caridade. "Entre seguidores e simpatizantes, temos um universo de 36 milhões de pessoas que poderiam usar esse cartão."
ALÔ, ALÉM
O ponto alto da excursão é o ritual de psicografia. Em resumo, pessoas atravessam a noite numa casa, na fila para serem atendidas por um médium que, talvez, quem sabe, vai psicografar uma suposta carta de um parente querido que se foi. O ritual, da espera à leitura das mensagens, dura de oito a 12 horas, o que leva à lição número três: espíritas são muitos pacientes e gostam de ver para crer.
Às 22h, vamos para o Lar Pedro e Paulo, sede das psicografias de Carlos Antônio Baccelli. Um dos discípulos famosos de Chico Xavier, Baccelli, 61, é também autor de livros como o recém-lançado "Meu Filho Nasceu no Além", que trata de sexo e concepção do lado de lá.
Mas falar sobre procriação de outro mundo não parece ser o objetivo de quem vai passar a madrugada ali. Boa parte das pessoas no local é de uma amabilidade diretamente proporcional às perdas que sofreram: pais que perderam filhos em acidentes, mulheres que enviuvaram antes da hora. Varam a noite, sem conforto e sem reclamar, em busca de consolo. É difícil não se apegar a elas.
Bem no começo da fila, Sônia de Barros, 73, que veio de Dourados (MS) para se integrar à nossa excursão, conta que perdeu o marido para o câncer há dois anos. A relação dos dois foi conflituosa. Numa época, ele se apaixonou por uma mulher mais nova e se foi.
Sonia esperou o marido voltar. "E passamos mais 20 anos felizes."Ela diz que já recebeu uma carta psicografada do marido. Como sabe que era dele? "Não sou muito influenciável, sou racional. Às vezes, penso comigo: 'Como é que eu tô acreditando nisso?' Mas todas as outras cartas falavam de amor. Na minha, ele só pedia perdão."
CANETA BIC E TOLSTÓI
Sol raiando, 5h50, e lá estamos nós de volta para acompanhar a sessão de psicografia. Costuma-se dizer que o médium não pergunta mais do que o nome do "desencarnado", a data de "desencarne" e o grau de parentesco com a pessoa que espera a carta. Mas Sônia conta que passou por uma espécie de entrevista com Baccelli. "Ele fez perguntas demoradas. Quase ficamos amigos."
Às 6h, começa a sessão. Baccelli senta numa mesa e, na clássica posição do médium, uma mão na caneta e a outra cobrindo o rosto, dispara a Bic freneticamente. Uma mulher séria de cabelos grisalhos faz as vezes de viradora de páginas. Vez ou outra, o médium contrai o rosto como se estivesse com dor.
Para entreter o público durante o ritual, que dura duas horas, há uma leitura bíblica, seguida de seis "comentários" e muita música. A atração é o coral espírita do maestro Valdenir Zanetti, de Criciúma (SC), que gorjeia letras como "Quando eu quero falar com Deus, eu apenas falo..." Emocionado, o público aplaude. Uma moça levanta uma placa de silêncio. Um dos comentaristas observa: "Vamos bater palmas com o coração".
"É preciso lembrar que o telefone toca de lá pra cá, e não de cá pra lá", diz um dos comentaristas, reforçando um dos lemas dos espíritas de alma apaziguada. Outro cita Tolstói. Sócrates, Platão e Benjamin Franklin surgiriam em outros comentários ao longo da viagem.
Quando começa a leitura das cartas, vem o anúncio de uma inovação. A leitura era sempre gravada em fita cassete. "Infelizmente, o cassete acabou. Ninguém acha mais", lamenta um comentarista. "Agora, a gente registra no gravador digital e depois manda por e-mail."
O médium lê as mensagens (parando, às vezes, para acentuar uma palavra) e cada família vai até ele, dissolvida em lágrimas, receber o recado do parente que tanta falta faz e beijar a sua mão. Sou do tipo que não aguenta ver gente chorar que já vai chorando junto. Decido contar páginas para conter lágrimas. Em duas horas, Baccelli psicografou 135 páginas em oito cartas, uma média de 17 folhas por mensagem.
Todos os "desencarnados" que decidiram mandar seu alô naquele dia –do adolescente que morreu em um acidente ao senhor que fez um malsucedido transplante de fígado– escrevem meio parecido. Chamam os parentes de queridos. Desejam feliz Natal e ano novo também. Dizem "não chorem", "penso em vocês". Falam difícil: "esqueçamos o câncer prostático que me acometeu".
PROPAGANDA ESPIRITUAL
A única carta que se destaca das outras é a de um jovem que morreu aos 19 anos. No meio da mensagem de apoio aos que ficaram, ele diz que ouviu falar do livro do médium, "Meu Filho Nasceu no Além" –e dá a entender que o outro lado também tem diversão. A família chora. Com o merchandising espiritual, o livro vende como água benta na fila de autógrafos após a leitura das cartas.
Sônia não recebeu mensagem do marido falecido, mas não se diz frustrada. "Valeu a pena. O telefone só toca de lá pra cá. Outra hora vem."
Do lado de fora, Maria Aparecida da Silveira, a Cidinha, uma das mais animadas da caravana, questiona o porquê de se fazer as pessoas, muitas de idade, passarem a noite acordadas à espera de uma possível carta.
"Não usamos senhas para evitar o perigo de comercialização indesejada de lugar na fila", me diz o médium.
Fica consciente enquanto psicografa? "Permaneço no estado de semiconsciência. Não sei o que os espíritos escreverão. Fico sabendo à medida que escrevem." Como os "desencarnados" aparecem todos juntos no mesmo dia e horário? "Eles não vêm por minha causa. Chegam acompanhados pelos familiares, que os trazem de suas cidades."
Todo mundo que morre fica bonzinho? "Eles escrevem sob a orientação dos técnicos do chamado intercâmbio mediúnico. O espírito não deve preocupar os que estão encarnados. Seria contraproducente."
Afinal, do que trata o livro "Meu Filho Nasceu no Além", mencionado pelo jovem espírito em sua carta? "O mundo espiritual é um planeta para onde os espíritos se transferem. Lá também existe afeto, amor", explica Baccelli.
"Como o próprio espírito escreveu na mensagem, de uma maneira muito engraçada: 'O que é que vocês imaginam que um jovem de 19 anos vem a fazer além da morte?'" Quer dizer então que existe sexo do lado de lá? "Sim", ele reluta em repetir a palavra sexo.
Alguma comprovação? "Essa é uma teoria. Na doutrina espírita, nossa fé é lógica. Acreditamos que existe vida no outro lado, por um raciocínio lógico, mas não temos comprovação. Nós acreditamos, mas até hoje a ciência não provou a lei da gravidade."
Ao terminar a entrevista, Baccelli me diz, com o sorriso de quem dá um aviso, que muita perspicácia às vezes faz mal. "Você fica muito racional. Começa a questionar uma coisa e, quando vê, está questionando tudo." (Ia questioná-lo sobre por que isso seria um problema, mas achei que não valeria a pena.). Última lição da viagem: Estude, leia, reflita, exija provas e duvide... Mas não muito.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Interpretação de texto número 1

fonte:folha de sp

HÉLIO SCHWARTSMAN
SÃO PAULO - Deu no "New York Times"1 que, depois que a Austrália implementou uma nova legislação que tornou os maços de cigarros mais repulsivos, com fotos explícitas das moléstias provocadas pelo tabagismo, fumantes começaram a queixar-se de que o sabor de seus cilindros tóxicos mudara para pior.
Como nada foi alterado no processo de fabricação dos cigarros, a resposta para a sensação dos fumantes só pode estar na psicologia.2 A E B
Nosso cérebro, apesar da aparência de seriedade, é um grande farsante3. Sobretudo nas faixas que operam abaixo do radar da consciência, que correspondem a algo como 98% dos processos, ele preenche os espaços para os quais não há informação com invencionices.4 Isso6 vale para tudo. Um caso emblemático é a visão. As "imagens" que chegam da retina não passam de um borrão desfocado com um grande buraco no meio. As áreas corticais destinadas à visão, valendo-se principalmente de nossa experiência passada, é que vão pacientemente reconstruindo tudo de modo a criar uma interpretação coerente para o que vemos.
As coisas não são diferentes com o gosto7. Ao contrário até, por ser um sentido relativamente pobre, está sujeito a todo tipo de interferência olfativa, tátil e se deixa facilmente levar pelo contexto.7 Uma boa apresentação e um serviço eficiente melhoram o gosto da comida servida no restaurante.8 Psicólogos já provaram que um vinho ordinário de R$ 20 fica bem mais saboroso quando etiquetado como uma garrafa de R$ 90.
Talvez pudéssemos explorar melhor essa faceta de nossas mentes. É possível que, associando desde cedo drogas a valores negativos, consigamos reduzir os casos de dependência sem necessidade de criar custosas e ineficazes máquinas repressivas.9 Minha impressão é a de que algo assim já está acontecendo com o fumo, que vem perdendo adeptos desde que o "Zeitgeist" lhe atribuiu uma carga moral negativa.
helio@uol.com.br
1Substitua o verbo dar de ''deu no N Y TIMES
2'' a resposta para a sensação dos fumantes só2A pode estar2B na psicologia''
A - SE EU TIRAR O 'SO' DESSE EXCERTO TEREI SENTIDO DIFERENTE DO TEXTO ORIGINAL. DÊ OS DOIS SENTIDOS AÍ PRESENTES.
B - SUBSTITUA A LOCUÇÃO VERBAL 'PODE ESTAR' POR OUTRA EQUIVALENTE.
3 - CONVERTA ESSE ESTRUTURA SUBORDINADA EM DUAS ORAÇÕES COORDENADAS.
4 O AUTOR CONSTRUIU UM PERÍODO QUE APRESENTA AMBIGUIDADE. DISTINGA-A E DEPOIS REESCREVA O TRECHO DEIXANDO-O CLARO.
5 O TEXTO, POR SER UMA CRÔNICA APRESENTA MUITAS PALAVRAS EM SENTIDO NÃO LITERAL. APRESENTE 3 DELAS
6 QUE PALAVRA (S) O PRONOME DEMONSTRATIVO 'ISSO' ESTÁ SUBSTITUINDO*.
7  VOCÊ ACHA QUE O AUTOR ACERTA QUANDO USA A PALAVRA GOSTO ( INTERROGAÇÃO). JUSTIFIQUE.
8 O USO DUPLO DA PALAVRA 'GOSTO' EM UM MESMO PARÁGRAFO PODE CONFUNDIR UM POUCO O RECEPTOR NO TEXTO. EXPLIQUE O PORQUÊ.

9 ASSOCIAR DESDE CEDO O CIGARRO A VALORES NEGATIVOS TEM O MESMO SENTIDO DE CRIAR CUSTOSAS E INEFICAZES MÁQUINAS REPRESSIVAS ( INTERROGAÇÃO). JUSTIFIQUE.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS. O CÉREBRO FARSANTE



      • se não conseguir ler este texto ( a edição ficou truncada) vá para o outro post, o chamado interpretação de textos 1
        SÃO PAULO - Deu no "New York Times"1 que, depois que a Austrália implementou uma nova legislação que tornou os maços de cigarros mais repulsivos, com fotos explícitas das moléstias provocadas pelo tabagismo, fumantes começaram a queixar-se de que o sabor de seus cilindros tóxicos mudara para pior.
        Como nada foi alterado no processo de fabricação dos cigarros, a resposta para a sensação dos fumantes só pode estar na psicologia.2 A E B
        Nosso cérebro, apesar da aparência de seriedade, é um grande farsante3. Sobretudo nas faixas que operam abaixo do radar da consciência, que correspondem a algo como 98% dos processos, ele preenche os espaços para os quais não há informação com invencionices.4 Isso6 vale para tudo. Um caso emblemático é a visão. As "imagens" que chegam da retina não passam de um borrão desfocado com um grande buraco no meio. As áreas corticais destinadas à visão, valendo-se principalmente de nossa experiência passada, é que vão pacientemente reconstruindo tudo de modo a criar uma interpretação coerente para o que vemos.
        As coisas não são diferentes com o gosto7. Ao contrário até, por ser um sentido relativamente pobre, está sujeito a todo tipo de interferência olfativa, tátil e se deixa facilmente levar pelo contexto.7 Uma boa apresentação e um serviço eficiente melhoram o gosto da comida servida no restaurante.8 Psicólogos já provaram que um vinho ordinário de R$ 20 fica bem mais saboroso quando etiquetado como uma garrafa de R$ 90.
        Talvez pudéssemos explorar melhor essa faceta de nossas mentes. É possível que, associando desde cedo drogas a valores negativos, consigamos reduzir os casos de dependência sem necessidade de criar custosas e ineficazes máquinas repressivas.9 Minha impressão é a de que algo assim já está acontecendo com o fumo, que vem perdendo adeptos desde que o "Zeitgeist" lhe atribuiu uma carga moral negativa.
        helio@uol.com.br
        1Substitua o verbo dar de ''deu no N Y TIMES
        2'' a resposta para a sensação dos fumantes só2A pode estar2B na psicologia''
        A - SE EU TIRAR O 'SO' DESSE EXCERTO TEREI SENTIDO DIFERENTE DO TEXTO ORIGINAL. DÊ OS DOIS SENTIDOS AÍ PRESENTES.
        B - SUBSTITUA A LOCUÇÃO VERBAL 'PODE ESTAR' POR OUTRA EQUIVALENTE.
        3 - CONVERTA ESSE ESTRUTURA SUBORDINADA EM DUAS ORAÇÕES COORDENADAS.
        4 O AUTOR CONSTRUIU UM PERÍODO QUE APRESENTA AMBIGUIDADE. DISTINGA-A E DEPOIS REESCREVA O TRECHO DEIXANDO-O CLARO.
        5 O TEXTO, POR SER UMA CRÔNICA APRESENTA MUITAS PALAVRAS EM SENTIDO NÃO LITERAL. APRESENTE 3 DELAS
        6 QUE PALAVRA (S) O PRONOME DEMONSTRATIVO 'ISSO' ESTÁ SUBSTITUINDO*.
        7  VOCÊ ACHA QUE O AUTOR ACERTA QUANDO USA A PALAVRA GOSTO ( INTERROGAÇÃO). JUSTIFIQUE.
        8 O USO DUPLO DA PALAVRA 'GOSTO' EM UM MESMO PARÁGRAFO PODE CONFUNDIR UM POUCO O RECEPTOR NO TEXTO. EXPLIQUE O PORQUÊ.
        9 ASSOCIAR DESDE CEDO O CIGARRO A VALORES NEGATIVOS TEM O MESMO SENTIDO DE CRIAR CUSTOSAS E INEFICAZES MÁQUINAS REPRESIVAS ( INTERROGAÇÃO). JUSTIFIQUE.,

      •  HÉLIO SCHWARTSMAN

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A QUESTÃO DOS APÁTRIDAS ...IN HANNAH ARENDT ( NÃO ES´TA PRONTO)

Uma das análises mais fecundas de Arendt, que conserva uma grande atualidade, é aquela do tema dos apátridas. Tendo vivido a experiência de ser jogada no mundo sem lastro ou referência de identidade nacional, quando vagou pela Europa entre 1933 e 1941, e depois quando permaneceu sem a cidadania americana por alguns anos, ela soube fazer dessa questão um tema universal, cujas consequências chegam até nós. O fato de que o mundo passou a conviver com milhões de pessoas rejeitadas, sem ter um estatuto legal definido, é ao mesmo tempo uma das conseqüências da política contemporânea, que resultou na criação dos regimes totalitários, e uma de suas heranças. Ainda hoje, a figura de cidadãos sem direitos em países ditos democráticos é um alerta quanto aos riscos que corremos ao aceitar dividir o mundo entre os que têm direitos e os que vivem numa terra de ninguém onde todos os excessos são possíveis. A recente legislação européia, que permite manter presos, por até dezoito meses, indivíduos destinados à expulsão, mas que não foram julgados, assim como os campos de prisioneiros americanos, situados fora de seu território, demonstram a sobrevivência dessa terra de ninguém, para a qual são mandados os que não podem se beneficiar da proteção integral das leis vigentes nos diversos países.
(...)
Um segundo aspecto importante da herança arendtiana é a capacidade que ela demonstrou de apontar os traços fundamentais que distinguem os regimes extremos do século 20. Ao analisar o papel do líder totalitário e mostrar os laços que o unem às massas desenraizadas e solitárias de nosso tempo, ela soube compreender o significado da solidão num tempo em que as comunicações aparentemente aproximaram os homens. Ao apontar para a progressiva destruição da esfera pública, que implicou o colapso do sistema partidário e em última instância da idéia mesma da pluralidade como valor primeiro das sociedades livres, ela mostrou ao mesmo tempo o lugar do qual nasce a experiência democrática e os limites de suas instituições. Finalmente, ao estudar o papel do terror na estrutura de domínio total, ela apontou para a destruição dos laços éticos entre os homens como a conseqüência necessária de uma sociedade sem política.
Se a referência aos campos de concentração, como fundamento da experiência totalitária, é um dos pilares da investigação de Arendt sobre a face trágica da política contemporânea, do ponto de vista filosófico, a referência ao mal radical – tema que perseguiu a pensadora durante toda sua vida – é o caminho para compreender como ela soube integrar a tradição filosófica de investigação da natureza do mal ao esforço de desvendamento do significado dos horrores que surgiram das entranhas da modernidade. Os estudos de Arendt sobre o totalitarismo esclarecem ao mesmo tempo a face trágica do século 20 e os enormes desafios das sociedades democráticas do século 21.

domingo, 10 de março de 2013

A dor e a dor de Chorão Mônica El Bayeh*


A dor e a dor de Chorão

Mônica El Bayeh*

A morte do Chorão caiu dura e seca em mim como caem as mortes jovens.  A morte nunca nos cai bem.  Mas, em alguns casos, ela espeta com mais força e a gente sangra por dentro. Sangrei por dentro com a morte do Chorão pelo que ele simbolizou em vida, sim.  Mais ainda, pelo que ele simbolizou em morte.
 
Chorão nos ensinou em morte que as dores da alma matam.  Não adianta fugir, elas correm atrás, perseguem sua presa.  ¨Quando a casa cai, não dá para fraquejar.  Quem é guerreiro tá ligado, quem é guerreiro é assim¨.  Mas alguns guerreiros acham que a luta é contra a dor. E é aí que perdem a batalha.

A dor maltrata.  Mas não é nossa inimiga.  Dor é sintoma, é alerta.  Tem que ser escutada.  Dor é luz de óleo de carro quando acende.  Não é contra a luz que se tem que lutar.  Precisa escutar a mensagem que ela traz.  Ou você toma providência ou bate o motor.  Quando a dor foi maior do que ele conseguia suportar, na ilusão de buscar a fuga, Chorão caiu na boca do predador.  Foi engolido pela própria dor.

Todos temos nossas dores.  Na minha opinião, elas se dividem em grandes e pequenas.  Grandes, sempre as nossas.  Pequenas, as dos outros.

Nossas dores são sempre as piores, porque são as que nos tocam, nos cortam, nos ferem.  As dos outros podemos imaginar – e dar muitos palpites.  Porque nos outros tudo sempre parece de muito mais fácil solução.

Dor é cano estourado, é insuportável, é urgência.  Tem que resolver, estancar.  Isso é só o que se pensa na hora do desespero.  Todos já passamos por isso.  Cada um estanca como pode, nem sempre da melhor forma, apenas da forma possível.  Sobreviver já é lucro.

Não cabe aqui nenhum juízo de valor, nenhum julgamento.  Cada um conserta seu cano como pode no momento.  Só que, se eu tampo com chiclete, com toalha, num remendo mal ajeitado, tenho que saber que vai vazar e agravar muito o meu problema mais à frente.

Porque a dor é como a água, procura seu curso.  Ou a gente para, enxerga ,tenta resolver e dar passagem para que ela nos conte a que veio, ou ela infiltra e se esgueira por outras direções.

Há pessoas que sentem pelo corpo:  têm enxaquecas, dores de barriga, de estomago, de coluna, pedras nos rins.  É a dor buscando seu curso.  A dor busca expressão.  É a forma que ela tem para mostrar que precisa ser cuidada.  O sintoma é um pedido de socorro sempre.
Uns dormem para esquecer. Outros  não dormem, porque não conseguem esquecer. Noites e noites em claro.

Há os que falam sem parar, e os que se calam completamente.  Os que fumam muito, bebem muito ou mergulham de cabeça numa panela de brigadeiro e os que param de comer.  Tem os que se drogam com remédios ou drogas não oficiais.  Em todos eles podemos ler o pedido de socorro estampado no olhar.  Em todos eles o grito mudo da dor.  A vida lhes dói, corta a carne por dentro e eles não sabem remendar esse cano para resolver e estancar de vez.  Nos olham perdidos, molhados de dor no meio da inundação.

Aflitos, muitas vezes tentamos ajudar.  Aí entra a questão da solidão.  Vida é solidão, sim.  Não quero dizer com isso que seja ruim, triste nem solitário.  Mas, como disse o próprio Chorão, ¨nascemos sozinhos e morremos sozinhos¨.

Nesse meio tempo, as decisões também são só nossas, por mais que tenhamos família, amigos, parceiros, ¨uma palavra amiga , uma notícia boa¨.  Por mais que larguemos ou deleguemos, a decisão sempre será nossa.  Na hora de ir ou ficar, na hora de começar ou separar, na hora do vamos ver, a decisão é só nossa.  Ninguém no seu lugar.  Isso é que é solitário.

Sempre tive horror de hospitais e cirurgias.  No meu primeiro parto, escutava o barulho da maca no corredor vindo me buscar.  Pagaria todo o meu ouro, que nem é tanto assim, para quem quisesse trocar comigo.  Poucas vezes na vida me vi tão só.  Era eu, não servia mais ninguém. Isso é a solidão.  O quarto estava cheio.  Fez diferença?  Nenhuma.  A barriga da vez era a minha, ninguém podia ir no meu lugar.  Então eu fui, com medo e tudo. Porque quando a vida não dá saída, a saída é ir.

Essa sensação de que não-tem-jeito-tem-que-ir é levemente aterrorizante.  ¨Mas também quero te mostrar que existe um lado bom nessa história¨.  A coragem de se lançar, mesmo com medo – e nem é pouco – deixa um gosto de vitória que compensa, ao final. Se fingirmos não ver nossas dores, nossas questões mais doídas, largamos de mão e não tomamos posição, essa já é uma posição.  Pesado, ruim?  Não penso assim.

É complicado no início tomar posse da sua vida, segurar no volante e definir a direção.  ¨Mas o tempo é rei, a vida é uma lição.  E um dia a gente cresce, conhece a essência, ganha a experiência e aprende o que é raiz, então cria a consciência¨.

Um leme bem manuseado impede que o barco fique à deriva, ou bata em tudo e acabe por naufragar.  Assumir o lema da própria vida é difícil.  À primeira vista, parece que não vamos conseguir.  Mas “para quem tem pensamento forte, impossível é só questão de opinião.  E disso os loucos sabem.

Somos solitários desde sempre.  Mas, a loucura de quem aposta na vida e tenta buscar socorro às vezes é única sanidade possível.  Saímos vitoriosos quando aprendemos a lidar com a dor.  E ¨quanto mais a gente rala, mais a gente cresce¨.

A morte do Chorão, um rapaz novo, talentoso ¨com habilidade de fazer histórias tristes virarem melodia¨, que cantava esperança para todos nós, caiu como uma bigorna daquelas de história em quadrinhos, que deixa o personagem achatado e sem forma por um tempo.  Ainda me sinto achatada e grudada no chão.

Chorão somos todos nós, com nossas dores e nossa solidão.  Com ¨nossas histórias, dias de luta e dias de glória¨.  Chorão, te devemos mais essa.  Que sua morte caia em nós como um grito de guerra pela vida.  Vamos continuar tentando ¨viver e cantar não importa qual seja o dia.  Vamos viver, vadiar, o que importa é nossa alegria¨.

Chorão, ¨você deixou saudade¨.
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* Mônica El Bayeh é professora e psicóloga.
Fonte:  http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2013/03/10/a-dor-e-a-dor-de-chorao/
Imagem da Internet

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

proposta com figuras e um texto




O amor acaba
Por Paulo Mendes Campos


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Texto extraído do livro "O amor acaba", Editora Civilização Brasileira – Rio de Janeiro, 1999, pág. 21, organização e apresentação de Flávio Pinheiro.

ligia, ficou longo mas o tema é interessante

Balada Do Louco
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz
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Em 18 de maio comemora-se, no Brasil, o Dia da Luta Antimanicomial, que propõe tratar a pessoa com transtorno mental de forma humanizada, resgatando a participação familiar e comunitária e substituindo o modelo baseado na hospitalização perene.

“Não é que o paciente deixe de ser hospitalizado quando se faz necessário (como quando há uma crise, uma desorganização psíquica, por exemplo), mas, com essa novo modelo, a hospitalização passa a ser um item, uma parte do tratamento, e não uma sentença de cárcere para vida toda do indivíduo”, explica a psicóloga Cristiane Valli, professora extensionista do curso de psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas).

“Antes da reforma psiquiátrica ser adotada em Trieste, na Itália, por Franco Basaglia (1924-1980) nos anos de 1960, e posteriormente ser pulverizada pelo mundo, incluindo o Brasil, a pessoa com transtorno mental era confinada em manicômios, excluído da família e da sociedade e comumente padecia de maus tratos”, completa a especialista.

No Brasil, a data foi escolhida porque em 18 de maio de 1987 ocorreu o Encontro dos Trabalhadores da Saúde Mental, em Bauru - movimento que resultou na Reforma Psiquiátrica brasileira, definida pela Lei 10216 de 2001 (Lei Paulo Delgado), que instituiu os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), onde os pacientes recebem tratamentos semi-intensivo (alguns dias por semana) ou nos casos mais severos, intensivos (todos os dias da semana), morando, entretanto, na maioria das vezes, junto com a família e convivendo em sociedade.

Para que a família, no entanto, possa estar preparada para acolhê-los, proporcionando uma convivência afetiva e suportiva a todos os seus membros, a PUC-Campinas desenvolveu um projeto de extensão a fim de preparar as famílias, intitulado “A família e a pessoa com transtorno mental: o resgate da participação familiar e comunitária”.

O projeto de extensão está sendo executado no Caps Sul - Antônio da Costa Santos (popularmente conhecido como Caps Toninho) através de uma parceria entre o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira e a Universidade. “Esse convênio foi superbem-vindo, veio a calhar”, afirmou a Terapeuta Ocupacional (T.O.) Rosana Romanelli, coordenadora do Caps Sul.

O trabalho é realizado por meio de oficinas, com a participação dos familiares e dos pacientes, e tudo feito pelo Serviço Único de Saúde (SUS). Atualmente, o Caps Sul dispõe de 370 usuários, mas sua capacidade é de 300.

Para a estudante de psicologia da PUC, Maria Cristina Lopes Mesquita, bolsita de extensão e uma das graduandas do projeto, que é coordenado pela professora Cristiane, o programa de extensão “é uma oportunidade de aplicar o conhecimento teórico na prática, auxiliando as pessoas (que não teriam como pagar por um tratamento particular)”.

De mesma opinião é a bolsista Flávia Corregio da Costa: “ao mesmo tempo que ele auxilia a família dos usuários e o tratamento deles, (o projeto de extensão) nos auxilia na nossa formação e na futura carreira profissional”. Para Flávia, a oportunidade “é um diferencial muito grande na carreira”.

O trabalho começou em abril e abrange, por ora, 40 usuários com seus respectivos familiares e/ ou responsáveis, em quatro oficinas.
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Folha de S. Paulo, seção: Opinião, 12/04/2009

FONTE: Associação Psiquiátrica de Brasília

A campanha contra a internação de doentes mentais foi inspirada por um médico italiano de Bolonha. Lá resultou num desastre e, mesmo assim, insistiu-se em repeti-la aqui e o resultado foi exatamente o mesmo.Isso começou por causa do uso intensivo de drogas a partir dos anos 70. Veio no bojo de uma rebelião contra a ordem social, que era definida como sinônimo de cerceamento da liberdade individual, repressão "burguesa" para defender os valores do capitalismo.A classe média, em geral, sempre aberta a ideias "avançadas" ou "libertárias", quase nunca se detém para examinar as questões, pesar os argumentos, confrontá-los com a realidade. Não, adere sem refletir.Havia, naquela época, um deputado petista que aderiu à proposta, passou a defendê-la e apresentou um projeto de lei no Congresso. Certa vez, declarou a um jornal que "as famílias dos doentes mentais os internavam para se livrarem deles". E eu, que lidava com o problema de dois filhos nesse estado, disse a mim mesmo: "Esse sujeito é um cretino. Não sabe o que é conviver com pessoas esquizofrênicas, que muitas vezes ameaçam se matar ou matar alguém. Não imagina o quanto dói a um pai ter que internar um filho, para salvá-lo e salvar a família. Esse idiota tem a audácia de fingir que ama mais a meus filhos do que eu".Esse tipo de campanha é uma forma de demagogia, como outra qualquer: funda-se em dados falsos ou falsificados e muitas vezes no desconhecimento do problema que dizem tentar resolver. No caso das internações, lançavam mão da palavra "manicômio", já então fora de uso e que por si só carrega conotações negativas, numa época em que aquele tipo hospital não existia mais. Digo isso porque estive em muitos hospitais psiquiátricos, públicos e particulares, mas em nenhum deles havia cárceres ou "solitárias" para segregar o "doente furioso". Mas, para o êxito da campanha, era necessário levar a opinião pública a crer que a internação equivalia a jogar o doente num inferno.Até descobrirem os remédios psiquiátricos, que controlam a ansiedade e evitam o delírio, médicos e enfermeiros, de fato, não sabiam como lidar com um doente mental em surto, fora de controle. Por isso o metiam em camisas de força ou o punham numa cela com grades até que se acalmasse. Outro procedimento era o choque elétrico, que surtia o efeito imediato de interromper o surto esquizofrênico, mas com consequências imprevisíveis para sua integridade mental.Com o tempo, porém, descobriu-se um modo de limitar a intensidade do choque elétrico e apenas usá-lo em casos extremos. Já os remédios neuroléticos não apresentam qualquer inconveniente e, aplicados na dosagem certa, possibilitam ao doente manter-se em estado normal. Graças a essa medicação, as clínicas psiquiátricas perderam o caráter carcerário para se tornarem semelhantes a clínicas de repouso. A maioria das clínicas psiquiátricas particulares de hoje tem salas de jogos, de cinema, teatro, piscina e campo de esportes. Já os hospitais públicos, até bem pouco, se não dispunham do mesmo conforto, também ofereciam ao internado divertimento e lazer, além de ateliês para pintar, desenhar ou ocupar-se com trabalhos manuais.Com os remédios à base de amplictil, como Haldol, o paciente não necessita de internações prolongadas. Em geral, a internação se torna necessária porque, em casa, por diversos motivos, o doente às vezes se nega a medicar-se, entra em surto e se torna uma ameaça ou um tormento para a família. Levado para a clínica e medicado, vai aos poucos recuperando o equilíbrio até estar em condições que lhe permitem voltar para o convívio familiar. No caso das famílias mais pobres, isso não é tão simples, já que saem todos para trabalhar e o doente fica sozinho em casa. Em alguns casos, deixa de tomar o remédio e volta ao estado delirante. Não há alternativa senão interná-lo.Pois bem, aquela campanha, que visava salvar os doentes de "repressão burguesa", resultou numa lei que praticamente acabou com os hospitais psiquiátricos, mantidos pelo governo. Em seu lugar, instituiu-se o tratamento ambulatorial (hospital-dia), que só resulta para os casos menos graves, enquanto os mais graves, que necessitam de internação, não têm quem os atenda. As famílias de posses continuam a por seus doentes em clínicas particulares, enquanto as pobres não têm onde interná-los. Os doentes terminam nas ruas como mendigos, dormindo sob viadutos.É hora de revogar essa lei idiota que provocou tamanho desastre.
------Dr. Antônio Geraldo da Silva - Presidente da APBr, comenta o artigo:
Respeitado internacionalmente, o escritor, filósofo e poeta, Ferreira Gullar escreveu um artigo sobre a realidade brasileira na assistência aos doentes mentais e seus familiares. O texto, publicado pela Folha de São Paulo no dia 12 de abril, pode ser considerado um dos mais importantes já publicados desde a promulgação da lei 10.216.Talvez por ser um familiar e não um médico e/ou político, Gullar tenha se referido à lei 10.216 como sendo a Lei do Deputado Paulo Delgado. Fato que não procede.O Projeto de Lei do Deputado foi rejeitado no Senado com 23 votos contra e somente 04 a favor. Sendo assim, não existe nenhuma “lei Paulo Delgado”.O que existe é um mesmo grupo estar à frente da Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde há mais de 20 anos, sendo que na última década o Coordenador é o irmão do citado deputado, que vêm conseguindo publicar portarias que burlam a Lei 10.216.A lei 10.216 é totalmente adequada às necessidades dos doentes mentais, seus familiares e dos profissionais comprometidos, mas está sendo distorcida em detrimento de uma proposta errada e rejeitada, que desde sua concepção estava fadada a levar nosso sistema público de assistência ao doente mental ao caos que estamos enfrentando hoje.Infelizmente dos 120 mil leitos públicos que existiam, hoje temos apenas cerca de 38 mil. Em compensação, os leitos privados aumentaram consideravelmente – chegando a mais do dobro do número anterior.Uma triste realidade. A desassistência à saúde mental reina no país.